sexta-feira, 11 de julho de 2014

Era uma vez um menino que tinha 5 cães,o Coito, o Biscoito, o Tricoito e o Perneta ( que também era cego de um olho). A cegueira ocorrera por volta dos 10 anos de idade quando, ao tropeçar num degrau porque era perneta, caiu das escadas a baixo e aterrou com o olho direito em cima de uma faca afiada.Completamente ensopado de sangue,deparou-se com o fantasma do Natal passado e exclamou: Foda-se! Agora não, não me levas a lado nenhum, não neste estado meu! Mas os sonhos podem levar-nos a qualquer lugar. Pegam nos nossos pés como plantas de 6 centímetros arrancadas à força para serem replantadas num outro lugar qualquer. Sempre sem quererem, sem vontade ou rumo seu. Nesse caso, o isolamento era o único escape presente na sua vontade, isso e umas orgias nas reuniões de condomínio. Mas isso era uma badalhoquice tal que depressa se deixou dessas coisas. A vida no campo era muito mais fácil, mais feliz e pacífica. O tempo passa lento com um vagar que só ele pode ter. Tão lento que é, tão lento pode ser. Amanhã, ao sol raiar, quem sabe o que irá encontrar: Uma caixa com pertences e Nazis zombies? Não, eram apenas caramelos ressequidos e mal cheirosos que o Diogo lá guardara e se esquecera no Natal de há 6 anos atrás. Assim como assim, estavam fora de prazo. O calendário, esquecido e solitário na cozinha, comprovava esse facto: os dias não as horas. O que são minutos ou segundos quando o tempo nos foge, rápido, das mãos? É como se quiséssemos  contar todos os grãos de areia existentes numa praia e nos perdêssemos tanto tempo a olhar para um búzio, que todos os grãos já haviam fugido quando nos virássemos para os contar. Não eram muitos, também porque, claro, quando os corpos estão em estado de putrefacção há menos braços, pernas, parecem menos. Menos membros, menos movimentos. Menos momentos de solidão acompanhada  em sombras próprias nas caminhadas. Como espectros fatais, cada qual com seu latido, percorrendo as ruas como cães, lambendo a pata aqui, cuspindo bolas de pêlo ali . Ah, espera ! Isso são os gatos. Fica para outra história.


[em parceria com Otario Tevez ]