quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Vestes

VESTES

Dentro de um caixote ou dentro de um móvel de ébano precioso vou pôr a guardar as vestes da minha vida.
As roupas azuis. E depois as vermelhas, as mais belas de todas. E a seguir as amarelas. E por fim de novo as azuis, mas muito mais desbotadas estas últimas do que as primeiras.
Vou guardá-las devotamente e com muita tristeza.
Quando vestir as roupas negras e quando morar dentro de uma casa negra, dentro de um quarto escuro, abrirei de vez em quando o móvel com alegria, com desejo e com desespero.
Verei as roupas e lembrar-me-ei da grande festa - que será nesse momento de todo finda.
De todo finda. Os móveis espalhados desordenadamente dentro das salas. Pratos e copos partidos no chão. Todas as velas gastas até ao fim. Todo o vinho bebido. Todos os convidados idos. Cansados alguns estarão completamente sozinhos, como eu, dentro de casas escuras - outros mais cansados terão ido dormir.

Konstandinos Kavafis

(In «Poemas e prosas», Tradução de Joaquim Manuel Magalhãese Nikos Pratsinis, Relógio d'Água, 1994)

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